sexta-feira, 25 de junho de 2010

O ARTISTA E A SOCIEDADE

Toda vez que vejo a produção de um artista, dentre tantas coisas, tento descobrir onde está a relação dessa obra com a época em que foi produzida, ou ainda, que elementos dessa produção mostra-me a sociedade em que vive o artista. Não consigo lembrar-me a partir de que momento comecei a buscar isso nas produções artísticas, só sei que de algum tempo para cá tenho consciência dessa procura.
Em "A Necessidade da Arte", Ernst Fischer afirma que:"Mesmo o mais subjetivo dos artistas trabalha em favor da sociedade." Será que o artista, esse ser que parece tão independente, é incapaz de expressar o seu "eu" ou será que ao expressá-lo através dos seus sentimentos incorpora à sua obra o "nós" fazendo da sua obra pessoal um retrato de todos e da época em que vive? Terá o "nós" também na arte mais força que o "eu"?
Parece-me que para entendermos um pouco melhor a questão, é necessário falar um pouco de processo de criação. Uma obra não é somente resultado, é também processo criativo, mesmo que imperceptível para alguns traz embutida toda vivência do indivíduo que, por ser um ser social representa a cultura do grupo com o qual convive. Fayga Ostrower afirma em seu livro "Criatividade e Processos de Criação" que: "A criação nunca é apenas uma questão individual, mas não deixa de ser questão do indivíduo", o que me leva a pensar que a questão não é saber se a obra representa o "eu" do artista ou o "nós" da sociedade mas o quanto cada um desses elementos se faz presente na produção artística. Parece-me então que alguns artistas carregam no "eu" e então sua obra se apresenta mais individual, carregada de sentimentos pessoais, já por outro lado, alguns artistas pesam mais a mão para o "nós",então sua obra teria um cunho mais social.
Acredito também que essas são dúvidas bem pessoais pois uma obra não precisa estar catalogada ou encaixotada em uma categoria para ser apreciada, mas continuarei minhas pesquisas se não pela conclusão pelo menos pelo prazer da leitura.

Marilene Lopes de Araujo

Um comentário:

  1. Belo Texto Marilene! Tb Ernest Fischer afirma que ao discutirmos ou compreendermos a arte apenas a partir de sua forma (fato predominante), sem considerarmos o conteúdo numa relação dialética com a forma, colocamos as questões sobre arte no vazio de discussões esteticistas.
    O eu e o outro são elementos presentes em cada centímetro de cada criação.Se o sujeito social, relaciona-se com seu meio e daí então constitui sua subjetividade, em sua obra singular há a impressão do outro.
    Não acredito em nada que se denomine como arte, se este nada disser... Creio que podemos gostar ou não gostar, afinal cada um é cada um, porém vivemos juntos em comunidade e cada coisa criada, falada, planejada... Tem seu efeito na sociedade. Se a arte não dialoga com o publico, é uma arte solitária... Pode não dialogar hoje, e talvez encontre seu lugar em algum momento da história, porém se “nunca” nada disser esta provavelmente nunca quis nada dizer! E não querer dizer nada... no meu conceito resume-se a se calar.
    Magda crudelli

    ResponderExcluir